AMOR DE UM RIO
Foi deslizando nas suas águas
meu gameleira
Que na minha infância, correndo
na tua beira
Entre socos e pontapés de
amigos, bola a jogar
E de cima das tuas verdes
árvores ia me atirar
Para com tuas águas correntes,
logo abraçar,
O desafio era subir, ao mais
alto galho chegar,
Para lá de cima em disputa
pular e despencar
Descendo por entre seus galhos
sem asa voar
Pedindo a Deus que suas águas
na enchente
Tronco oculto não trouxesse pra
ferir a gente
Que nas águas turbentas não nos
deixava ver
Mas batendo nosso corpo dava
pra perceber
E sob forte tensão não
poderíamos esquecer
A sova da mãe em casa ia mesmo
acontecer.
Aprendi a lição e enorme emoção
em nadar
Surfando no teu leito vi o
prazer de te amar
Na esperança de melhores dias,
eu te deixei
Morrendo de saudade no peito
muito chorei
Plêiade de novos amigos ganhei,
conquistei
Quando a te, felizmente
sorrindo eu retornei
Compreendi que teve na vida um
choro maior
Pois o despertar da tua saudade
foi bem pior
Que de tanto escorrer suas
lágrimas secaram,
Quando as suas verdes árvores
lhe cortaram,
Desmatando seus caminhos
alongaram a areia
Condenando o verde e matando a
linda sereia
Que falava de amor e nos
encantava na beira
Ao som estrépito de um remanso
do gameleira
Hoje com toda surdez, não
podeis mais escutar
A cor da aurora nas belas
manhãs de inverno.
Restaram as lembranças de um lindo
lugar
Sobrevivendo ardente resquício
desse inferno
Seco, tórrido, quente e árido
como o satanás
Que na sua satã maledicência,
tanto mal faz.
Construindo na sofreguidão vida
sem calma
Desencantando a fortaleza de
nossa alma
Com a mudez mortal no silêncio
da sereia
Que morreu falando de amor sob
a areia.
A ti voltarei, correndo na tua
beira a jogar,
Trombando e soltando árvore a
semear
Até te ver sorrindo de novo a
estrondar
E com muita água novo lago se
formar.
Capaz de ver reflorir e o mundo
colorir
Para que depois do choro volte
a sorrir
Vilanova, Edvaldo de Alencar-
Membro da Academia Longaense de Letras, Cultura,História e Ecologia –ALLCHE,
cadeira 32.