Em 1952 Teresina comemorou o seu centenário.Era governador do Estado Pedro de Almendra Freitas e prefeito municipal João mendes Olímpio de Melo.Num momento difícil,em que a economia piauiense destruída pela queda da cera da carnaúba,os poderes públicos pouco tinham a oferecer para a magna data da cidade criada pelo conselheiro José Antônio Saraiva.O então padre Joaquim Chaves ,antevendo o importante acontecimento ,conseguira, no final da década de 40,com a ajuda da sociedade local,erguer as magníficas torres de 51 metros, da Matriz de Nossa Senhora do Amparo,templo máter da principal urbe piauiense e que ainda hoje é o mais alto edifício de Teresina.
O primeiro passo para a elaboração de um calendário de eventos comemorativos foi o de fixar realmente o dia da fundação da cidade.
Uma comissão de historiadores e intelectuais optou pelo 16 de agosto de 1852,data que Saraiva oficiou aos outros presidentes das províncias do Império que a nova Capital,recém-criada,já tinha o governo provincial ali instalado.A escolha gerou polêmicas que chegaram aos nossos dias.
Veio em seguida o problema de recursos financeiros para as comemorações.A cidade não tinha hotéis de porte,era acanhada e sem pavimentação,enfim,pobre e humilde como a maioria dos seu habitantes.Com muitas dificuldades obteve-se do Governo Federal uma verba de Cr$ 5 milhões.Com isto,concluiu-se o Hotel Piauí,obra iniciada no governo de Leônidas Melo.A cidade já poderia receber seus visitantes ilustres.A outra parte dos recursos foi entregue à Prefeitura e á comissão organizadora do Centenário.Na praça Saraiva construíram,às pressas,as vias internas e ,bem no centro,foi colocada a primeira estátua da capital, a do seu fundador,o baiano José Antônio Saraiva.Fez-se a reforma do Teatro 4 de Setembro,internamente deteriorado,para as solenidades públicas.Construiu-se,ao lado,um bar típico,totalmente feito com material nativo:piso de lajes de Piracuruca,paredes de troncos da carnaubeira e forro da palha da referida palmeira.
Ao evento compareceram,além dos piauienses residentes fora do Estado,figuras como a do baiano e ministro da Educação e Cultura Simões Filho, a do também baiano Pedro Calmon,historiador e reitor da Universidade do Brasil,o grande médico piauiense Deolindo Couto,o escritor Câmara Cascudo e outros convidados.Foi indicado como patrono do centenário da Capital o jornalista Assis Chareaubriand,diretor-proprietário dos Diários Associados, a maior cadeia de jornais,rádios e televisão da América Latina.
Pensava-se que, com a escolha do temível jornalista,ter-se-ia o status conveniente para um grande evento.Chateaubriand,aqui chegando,torceu o nariz para a pobreza teresinense,usou a sua proverbial falta de educação na grande sessão solene da data festiva,iniciando seu discurso com as seguintes palavras:"Barraqueiros e barraqueiras do Parnaíba..." E por aí foi levando tudo na ironia e na gozação.Na festa do Palácio de Karnak bebeu do bom uísque e escandalizou a todos beijando acintosamente as senhoras das autoridades locais, e proferindo deboches e piadas inconvenientes.
Clidenor de Freitas Santos foi orador oficial na inauguração da estátua do conselheiro,seguido de vários outros,debaixo de um tórrido calor de agosto.O conferencista Pedro Calmon não teve um momento de folga:palestras na Faculdade de Direito,no Teatro 4 de Setembro,no Colégio da Irmãs Catarinas,cumprindo a sua missão com paciência e respeito a todos que o ouviam.
Uma feira de amostra foi instalada na praça João Luís Ferreira.Alguns cantores de fora deram as suas caras,mas o certo é que alí se instalara o maior cassino da história do Piauí,que funcionava com seus jogos até o dia amanhecer.
A nota mais graciosa da festança foi o conjunto musical do notável clarinetista e um dos pais do chorinho,Abel Ferreira,que tocou vários dias no Clube dos Diários para os teresinenses e visitantes...E o acontecimento foi lembrado durante uma década.
Fonte:Antologia:Segundo Congresso Eucarístico Arquidiocesano de Teresina/Maria Cecília mendes(org)-Teresina:Halley,2010
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