Nasci em Alto Longá, terra das memórias que me abraçam até hoje. A casa onde abri os olhos para o mundo era um lugar de risos, fé e histórias que se espalhavam pelos cantos. Era o lar de meus pais, Pedro Henrique e Walmira, dois corações que fizeram daquele lugar um santuário de amor e princípios. Meus avós paternos, Luís Eugênio da Costa e Maria das Neves Arêa Leão, e meus avós maternos, Cantídio Saraiva de Siqueira e Maria dos Humildes Campos Saraiva, fincaram suas raízes na nossa história, nutrindo em nós a essência da família.
Cresci na companhia de meus irmãos, Edileusa, Edilane e Henrique César, companheiros inseparáveis de travessuras e sonhos. Paulo Henrique, meu irmão mais velho, veio ao nosso convívio na fase adulta, trazendo com ele uma presença que somou novas experiências e fortaleceu ainda mais nossos laços.
Nós, crianças ainda, brincávamos às margens do Rio Gameleira, que corria sereno e fiel, testemunhando nossas aventuras de pés descalços e corações livres. O Rio Gameleira era mais que um curso d’água; era confidente, refúgio e cenário das tardes em que o sol parecia brincar de esconde-esconde com as águas. Também tinha o Freio Pedro, uma fonte de água onde todos iam se refrescar e buscar lazer. Reza a história popular que o Frei que dá nome ao lugar morreu de sede, um paradoxo que sempre intrigou nossa imaginação.
A brincadeira que mais me encantava era ser professora. Preparava um quarto da minha casa como se fosse uma sala de aula, alinhava cadernos e livros, e chamava minhas amigas, que se transformavam em minhas alunas. Ali, dava vida às minhas aulas infantis, sinalizando desde cedo meu amor pelos estudos, pelos livros e pela sala de aula. Essa paixão que nasceu na infância me acompanhou por toda a vida, tornando-se uma vocação que só cresceu com o tempo.
Lembro-me também das lições de fé e devoção nos Festejos de Nossa Senhora dos Humildes, que aconteciam em dezembro, do dia 23 até o dia 1º de janeiro, data dedicada à nossa padroeira. As celebrações reuniam o povo em cantos, promessas e orações, nos unindo ainda mais sob a luz da esperança e da espiritualidade. Era uma época mágica, quando a cidade inteira vibrava com a alegria das festividades, e o som das rezas e dos sinos ecoava por cada canto.
O nosso lar era um verdadeiro lugar de acolhimento, onde a hospitalidade de minha mãe transformava nossa residência em um ponto de encontro para amigos e parentes. Era um espaço de recepções memoráveis, onde as histórias, risos e músicas enchiam a casa de vida.
Estudei no Colégio Acrísio Veras, onde a infância ganhou cores de amizade e descobertas. Os amigos que fiz naquela época são parte do meu mosaico de lembranças, onde cada rosto, cada brincadeira e cada lição aprendida continuam vivos e presentes. Éramos pequenos sonhadores, com as almas inquietas e os corações grandes, explorando juntos a vida que ainda estava se abrindo.
Alto Longá é mais que um lugar onde nasci. É um pedaço de quem sou, um porto onde as memórias repousam e onde as raízes seguem firmes, nutrindo a essência de tudo o que me tornei.
Maryneves Arêa Leão
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